domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Invenção da Infância

Ser criança não significa ter infância.
Documentário de Liliana Sulzbach, Rio Grande do Sul, 2000.




Um comentário:

  1. A invenção da infancia (IRENE)

    Embora os adultos de todas as espécies normalmente tenham uma disposição favorável para as crias, o valor atribuído às crianças mudou nos últimos séculos. No passado, as crianças morriam com facilidade e quase nenhuma chegava a ser adulta. Nesse tempo não era muito convenente afeiçoar-se aos filhos muito cedo.
    Algumas crenças religiosas também consideravam que a infância era uma etapa perigosa, pois tínhamos nascido com o pecado original, e só com os nossos atos poderíamos nos liberar dele.
    Hoje a situação é outra, pois as crianças são escassas. A vida das pessoas do ocidente é muito complicada e, por isso, ter filhos é uma decisão muito importante. Antes de ter um filho, muitas famílias calculam os gastos e as obrigações que envolve. Mas isto não é assim em todas as partes: na África, Ásia ou em muitas regiões da América (alguns lugares do Brasil, por exemplo) a situação é outra. Lá, a mortalidade ainda é alta e as pessoas não pensam na conveniência de ter ou não crianças. As crianças simplesmente vêm e vão.
    No vídeo podemos ver a expressão disto nas frases de muitas mães que dizem: “Deus me deu e Deus tomou”, “morreu assim de repente, sei lá”, “morreu de morte” ou “teve vinte e oito filhos, tem sete vivos”...
    Em suma, a concepção da infância muda em função da situação social.
    O historiador francês Philippe Ariès publicou um livro em 1960 sobre a vida familiar no Antigo Regime. Neste livro, Ariès analisa o papel das crianças na família até o século XVIII e apoia a ideia de que na sociedade medieval não existia o concepto de infância. As famílias tinham muitos filhos, mas poucos chegavam à idade adulta. Se a criança morria, o que era habitual, a família não ficava muito triste pois outra criança viria a substituí-la. As crianças também não tinham nome até certa idade. E quando a criança já não precisava de cuidados especiais era considerada igual a um adulto e, portanto, trabalhava. A única diferença era que as suas forças eram menores.
    No vídeo vemos um menino que diz que “ficar em casa é pior, porque não ganha nada”. Ainda hoje muitas crianças são uma importante fonte de renda para as suas famílias. Há outro menino que diz que “quem não tem filhos trabalha sozinho”, e é ele mesmo quem diz que “eu acho que eu sou criança ainda”...
    A invenção da infância é parte de um sonho de uma humanidade melhor, mas este sonho ainda não se realizou.
    Ser criança não significa ter infância.

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