Com a proximidade do Dia dos Namorados cresce o número de charlatões
De olho na clientela à procura de sorte no amor, astrólogos, videntes e pais de santo abusam dos clichês para faturar
Por Giovana Romani e João Batista Jr. | 09/06/2010

Natalia cobra R$ 50,00 pela consulta
por Fernando Moraes
Com a proximidade do Dia dos Namorados, um comércio para lá de alternativo ganha movimento extra na cidade. São os “consultórios” de astrólogos, tarólogos, pais de santo, “bruxos” e toda sorte de videntes. Por meio de classificados em jornais, revistas, placas que emporcalham os postes, panfletos distribuídos em avenidas movimentadas e anúncios na Internet, é fácil encontrar um adivinho para chamar de seu. “É preciso ficar atento para não cair no conto do vigário”, diz o parapsicólogo Jayme Roitman, que em 2006 participou do quadro do ‘Fantástico’, da Rede Globo, chamado ‘Operação Bola de Cristal’, que desmascarava falsos esotéricos. “E isso é o que mais se vê por aí.” Foi o que a reportagem de VEJA SÃO PAULO constatou quando consultou, sem se identificar, dez desses profissionais entre segunda (31) e quarta (2). Em sete deles, além do valor da consulta, foi pedido um dinheiro extra — que variou de 500 a 3000 reais — para um trabalho de “limpeza”. Ou seja, se os repórteres não colocassem a mão no bolso, ficariam “com a vida amorosa amarrada para sempre”. Houve quem se dispusesse a ir até um caixa eletrônico sacar a quantia na mesma hora. “Eles se aproveitam da fragilidade alheia”, afirma o psicólogo Ailton Amélio da Silva, professor da USP e especialista em relacionamentos amorosos. “Mas os resultados, se existirem, são por efeito placebo. A pessoa quer tanto acreditar que muitas vezes acaba dando certo mesmo.”
Leia mais - Revista VEJA Edição 2.168
Os parapsicólogos Jayme Roitman e Marcia Cobêro explicam como agem os falsos esotéricos
OS DEZ MANDAMENTOS DA ADIVINHAÇÃO
Os parapsicólogos Jayme Roitman e Marcia Cobêro explicam como agem os falsos esotéricos
1. Faça sempre um raio X da vítima. Aparência, roupas e até o carro em que chegou fornecem pistas sobre sua personalidade.
2. Pergunte quem é, o que faz, onde mora e a data de nascimento no início da consulta, além de procurar saber o que traz a pessoa ali.
3. Tente compreender os anseios do cliente. Isso permite, com o perdão do trocadilho, dar as cartas no jogo e conduzir a conversa. Se desconfia que o marido tem uma amante, por exemplo, confirme.
4. Emita apenas afirmações genéricas. Toda família tem alguém doente, uma ovelha negra, alguém endividado ou desempregado. Um novo amor, obviamente, sempre pode aparecer.
5. Deixe que as perguntas pareçam afirmações.
6. Aproveite dicas oferecidas nas respostas anteriores para formular novas previsões.
7. Preveja fatos que possibilitem diversas interpretações.
8. Transforme erros em acertos. Se ao perguntar se alguém próximo morreu recentemente a resposta for negativa, emende: “Então vai morrer em breve”.
9. Estabeleça prazos.
10. Aposte na casualidade. Acidentes, separações e mortes ocorrem a toda hora.
ENTENDA OS ORÁCULOS
■ Búzios: sua origem está ligada às religiões africanas. No tipo mais conhecido, o jogo de dezesseis conchas permitiria previsões.
■ Cartas indianas: integram os chamados “oráculos profanos”, sem raízes tradicionais.
■ Tarô tradicional: contém 78 lâminas (ou cartas), que tratam desde questões cotidianas até mistérios da vida. Há cerca de 2 000 variações, como o egípcio e o de Marselha.
■ Runas: têm origem na cultura viking. Compõem-se de 25 pedras em que há inscrições de letras nórdicas. Trazem conselhos rápidos para até noventa dias.
Fontes: Manoel Alves de Souza, presidente da Federação Brasileira de Umbanda, e Tânia Gori, reitora da Universidade Livre Holística
AS PALAVRAS QUE ELES MAIS REPETEM
■ Amarração: oferenda com o objetivo de unir um casal.
■ Candomblé: religião africana que cultua os orixás.
■ Exu: mensageiro entre orixás e humanos, pode ser usado para o bem e para o mal.
■ Orixás: seres divinizados. Cada um deles representa um elemento da natureza, caso de Iemanjá (água do mar).
■ Pombajira: versão feminina de Exu, ajuda a separar e formar casais.
■ Serviço ou trabalho: sinônimo de macumba, considerado um termo pejorativo. Consiste em fazer uma oferenda aos orixás em troca de favores positivos ou negativos.
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